Se deseja tocar o coração das pessoas, a não ser que você queira infartá-lo, gritar nunca será a melhor ideia.
Quando queremos chamar a atenção a primeira coisa que se passa na nossa cabeça é aumentar o tom de voz, uma atitude tão primária como um choro de bebê quando busca atenção dos pais, atitude egoísta instintiva nas primeiras fases da vida visando a sobrevivência da espécie.
GRITAR PARA CHAMAR A ATENÇÃO pode até funcionar por alguns segundos, mas sua mensagem tem que ser convincente o bastante para justificar seu inesperado grito que interrompe a programação/timeline das pessoas. Outro desafio que você pode encontrar, são as muitas marcas que já estão gritando, empresas que pagam um alto preço para berrar COMPRE AGORA, OPORTUNIDADE ÚNICA e uma série de clichês para chamar sua atenção.
Não podemos negar que ser visto é ser lembrado, mas a pergunta na sequência deve ser: qual lembrança eu quero deixar?
Faça menos barulho.
Como disse Steve Jobs, "vivemos em um mundo barulhento¹", então o que as pessoas menos precisam é de mais barulho. Compreender isso é um bom começo e pode te ajudar a entender que as pessoas estão sobrecarregadas com tanta informação, elas estão infoxicadas. Por favor, pare de gritar.
Desculpe! Minha intenção não foi parecer grosseiro, a ideia aqui é que sua marca se comporte diferente daquela criança egoísta. Você deve estar se perguntando, "como ora bolas então podemos falar sem sermos ignorados, já que vivemos num mundo tão barulhento?"
Já que estamos falando tanto sobre barulho, imagine só: você está numa festa, o som bem alto, todos só se comunicam gritando, você está curtindo tudo isso, dançam, dão risadas, etc...Como alguém ali despertaria seu interesse? Talvez o início seja uma troca de olhares, aos poucos vocês se aproximam dançando, de repente - imagine só - a pessoa desaparece por alguns instantes, e quando você menos espera ela reaparece te oferecendo uma bebida, a partir deste momento ela se aproxima cada vez mais a ponto de conversarem ao pé do ouvido, com sussurros que te fazem arrepiar, então todo aquela atmosfera faz parte de algo maior que está acontecendo entre vocês.
Esta simples e boba ilustração busca deixar claro que para se conectar com as pessoas, e indo mais a fundo, tocar seu coração, é necessário um conjunto de ações que a façam enxergar valor no que você está fazendo. Perceba que eu disse fazendo, e não falando. E no gerúndio mesmo, porque é um processo contínuo.
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Suas atitudes falam tão alto que eu não cONsigo ouvir tua voz.
Ralph Waldo Emerson.
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A proposta de valor te ajudará a conectar o melhor da sua marca com o que as pessoas precisam.
A questão aqui não é deixar de falar, mas de ter coerência entre o que se faz e o que se fala. Hoje a busca por relações mais significativas exige que as marcas tenham mais responsabilidade sobre o que falam.
Quanto mais profundo o nível de envolvimento com o que você diz defender, maior será a conexão das pessoas com você.
Se quer saber o que de melhor sua marca pode oferecer para as pessoas, pensem o seguinte: o que o cliente busca? Quais são suas dores? O que ele espera ganhar? E então reflita: o que eu faço? Quais dores meu produto alivia? Quais os ganhos que as pessoas têm com ele? Essas simples perguntas te ajudarão a criar uma proposta de valor conecte o melhor da sua marca com o que as pessoas precisam.
Tendo sua proposta de valor bem definida, você já possuirá uma bússola que servirá como guia na construção de uma relação baseada em valores comuns, e por isso tem tudo para ser próspera.
É impossível ficar indiferente a um insight poderoso.
Achar um insight poderoso pode dar um boost na sua comunicação e achar uma forma surpreendente de contar isso pode tornar sua campanha memorável. Mas a proposta de valor não é isso. Ela é uma ferramenta que te auxilia na descoberta do insight e na criação de ideias, dando clareza entre o melhor dos mundos da marca e das pessoas. Abre parênteses, vale ressaltar que pessoas aqui são o target e o ideal é já ter mapeado a brand persona dele, fecha parênteses.
Compartilhar uma verdade pouco confessada toca as pessoas, pois gera identificação e elas dificilmente ficarão indiferentes. Observe a história do cego pedinte, contada por Leduc.
…em uma manhã de primavera, um pedestre, ao atravessar aquela ponte, pára diante de um mendigo que em vão estendia seu chapéu à indiferença geral. Num cartaz, está escrito: sou cego de nascença. Emocionado por esta situação, dá sua esmola e, sem nada dizer, vira o cartaz e nele rabisca algumas palavras. Depois se afasta. Voltando no dia seguinte, encontra o mendigo transformado e encantado, que lhe pergunta por que, de repente, seu chapéu se enchera daquela maneira. É simples, responde o homem, eu apenas virei o seu cartaz e nele escrevi: É primavera e eu não a vejo.
Dizer que a pessoa é cega de nascença é uma verdade, mas que não gera identificação com quem enxerga pois não é possível compreender o real impacto dessa condição. Agora, quando você traz para um contexto onde todos podem sentir: "É primavera e eu não a vejo", você escancara para as pessoas a possibilidade de não ver a beleza das estações. Você as coloca no centro da conversa e elas não conseguem ficar indiferentes a isso. E, acredite se quiser, ele só escreveu... não pediu para o cego gritar.
Gosto do slogan da McCann Erikson: A verdade bem dita.
E quando falamos sobre contar a verdade da melhor forma, ter uma boa ideia é tão transformador quanto a encontrar um insight poderoso. Pode inspirar, fazer rir, emocionar, fazer pensar, engajar, criar desejo, tendência, e muito mais. Eu acredito que o dever do criativo é maximizar a percepção do valor da marca para seu público. E quanto maior for a percepção, melhor a ideia.
As pessoas atualmente são impactadas por mais de 5 mil marcas diariamente, e fazer com que a sua tenha notoriedade é um baita desafio. Por isso, surpreender de maneira autêntica e pertinente faz a diferença. Entregue algo de valor, nem que seja um sorriso de canto de boca. É a boa propaganda, como diz Washington Olivetto: É ser gentil, é respeitar o momento e a inteligência do seu cliente.
É ele quem deve estar no centro da conversa, antes de qualquer gatilho, fórmula ou caixa alta. Qual tipo de contexto ele está inserido? Como podemos nos conectar com ele de maneira interessante? Qual o tom de humor da minha abordagem? Faz mais sentido emocionar ou fazer rir? Essas são algumas questões que podem ajudar a chegar em resultados mais assertivos.
Qualidade não é quantidade, mas quantidade ajuda a ter qualidade, ou seja, solte a mão, e comece a escrever sem medo, sem limitação, tudo pode. E depois que tiver um número bom de ideias, volte selecionando as melhores dentro da expectativa e viabilidade. Quais delas são mais impactantes? Poderia virar notícia nos jornais? Alguma já existe? Qual temos verba para executar? Elas são compartilháveis?
Dica politicamente incorreta: pensar ao contrário da categoria, ir na contra mão do que todos fazem, podem ser arriscado, mas pode valer a pena. Já ouvi alguns criativos que usam esse critério. Pensar, "o que nunca essa categoria faria?," pode acender uma fagulha para caminhos inexplorados.
Grite menos, arrepie mais.
Vejam o exemplo do Tape Face, que num show de talentos onde majoritariamente as pessoas se apresentam cantando, ele escolheu se apresentar com a boca fechada. O resultado? ;|
Se subir no palco, faça valer. As pessoas te darão atenção, então dê show.
As pessoas buscam relações com significado, nem que seja por um instante, nem que seja para sorrir vendo um vídeo de 15seg., que mostre algo novo e surpreendente, ou algo que tenha tudo a ver com elas. E não é sobre o que você vai fazer, mas se isso vai tocá-las ou não. Portanto, não basta subir no palco, você tem que dar show, senão, próximo!
Quando se entende isso, o jogo muda. Sua marca amadurece, sai da fase da infância e para de competir de quem fala mais ALTO. Entende que é sobre se relacionar, sobre escutar, achar o melhor entre os dois mundos, encontrar um insight potente e criar uma grande ideia e executá-la primorosamente.
Dessa forma, você começa a utilizar sua energia de maneira mais significativa, deixando de fazer apenas barulho. Você passa a transformar sua energia em valor, em sorrisos, em suspiros e arrepios, e isso vai muito além de chamar a atenção, isso toca o coração.
Grite menos. Arrepie mais.
Referências
1 - Vídeo da apresentação da campanha Think Different para os acionistas da Apple. Link:https://www.youtube.com/watch?v=0Vcy3fxFxOA